Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), braço direito da Organização Mundial da Saúde (OMS) nas Américas, avalia-se que, no mundo inteiro, haja mais de 300 milhões de pessoas sofrendo com quadros de transtorno depressivo (depressão).
Ainda segundo a OPAS, 1 em cada 4 pessoas nas Américas sofre com doenças de ordem mental ao longo da vida. Nesse sentido, alguns cientistas têm buscado alternativas aos medicamentos tradicionais com o uso de substâncias psicodélicas, a exemplo de tratamentos com cetamina para depressão.
Esse uso terapêutico de princípios ativos antes vistos apenas como alucinógenos tem se revelado um tanto quanto promissor. Uma das razões por trás desse uso seria o alto número de pessoas que não têm reação positiva ao fazer uso de medicamentos antidepressivos — de 30 a 40% dos pacientes medicados.
Um novo olhar sobre o uso de psicodélicos para saúde mental
O boom das substâncias psicodélicas aconteceu entre as décadas de 1960 e 1970, especialmente nos Estados Unidos e na Inglaterra, porém, de maneira recreativa e voltada apenas para o prazer imediato. Para além das “viagens” de ordem mental, o impacto social naquele momento foi um tanto quanto nocivo.
Não à toa, iniciou-se uma espécie de guerra às drogas, algo que é visto até hoje nas campanhas de combate ao uso de substâncias entorpecentes. No entanto, o que está sendo buscado agora é algo baseado na ciência, que pode revolucionar a vida de pessoas com problemas crônicos como a depressão.
Dizer isso é importante para que possamos começar a romper com os estigmas em torno de um assunto tão delicado como esse — a exemplo do que ainda acontece com o uso do canabidiol no tratamento de pessoas com autismo, epilepsia, esclerose lateral amiotrófica (ELA) e a até mesmo alzheimer.
Cetamina como alternativa no combate à depressão
A cetamina, ou quetamina, não é uma substância nova no universo da medicina, já que é usada desde os anos 1960 para ajudar a manter a sedação de pacientes em cirurgia. No entanto, a novidade está relacionada ao uso inovador no combate a diversas doenças de ordem mental, a exemplo da depressão.
Apesar de ainda acontecer de maneira off label (sem a prescrição na bula), tal prática já é amparada em Conselhos de Medicina, a exemplo do Canadá e dos Estados Unidos, sendo algo relativamente novo aqui no Brasil. O tratamento, que é bastante caro e ainda fica restrito a poucas clínicas psiquiátricas, tem resultados promissores.
Isso porque a cetamina consegue, além de provocar uma expansão de consciência (o que podemos chamar popularmente de “viagem”), ajudar no fortalecimento cerebral, de modo a criar novos neurônios e melhorar as conexões entre todos os já existentes.
Segundo o psiquiatra Dartiu Xavier, coordenador do ambulatório de dependência química da Unifesp, em entrevista à revista Veja SP, entre 50% a 70% dos pacientes que não respondiam aos medicamentos comuns e fizeram o tratamento com a cetamina tiveram melhora de ao mesmo 50% dos sintomas depressivos.
Outros psicodélicos também vêm sendo pesquisados
Além da cetamina, existe uma série de outras substâncias alucinógenas que estão sendo pesquisadas para o tratamento de casos de depressão grave. Um dos mais promissores é a psilocibina, encontrada em cogumelos alucinógenos, que promove maior plasticidade cerebral e melhora no ânimo.
Por sua vez, a ibogaína, derivada da raiz da planta de origem africana (iboga), já vem sendo usada, principalmente, no combate à dependência química de drogas como cocaína, crack e heroína. Sua compra não é legalizada no Brasil, porém a substância pode ser importada, desde que haja autorização prévia da Anvisa.
O princípio ativo do ecstasy, o MDMA, voltado para o tratamento de transtorno de estresse pós-traumático, também está em vias de ser aprovado pela agência federal de saúde dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA).
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